quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Roma Manuche é mesmo cigana!

31/05/2009 - 19:30
Trivial de Django Reinhardt
Por Dimitri
Nassif,
não sei se já teve algum post sobre o fabuloso Django Reinhardt (1910-1954), esse guitarrista cigano que praticamente fundou o jazz francês na companhia de Grappelli – no então Quinteto Hot Club em Paris (1934). Depois de um dia puxado de trabalho nada melhor do que chegar em casa, ligar o som, fechar os olhos e ouvir a fluidez insinuante e cristalina do Jazz Manuche do Django.Pra quem não conhece Jean Reinhardt era cigano Manuche, uma linhagem de ciganos Roma que migraram do leste europeu e se fixaram na França
há pelo menos 3 séculos.O termo “cigano” na realidade é uma corruptela linguística para o nome de uma região montanhosa no norte da Grécia chamada “Gyppe” que, logo na chegada dos primeiros fluxos da diáspora Roma, foi confundido pelos europeus como “Egypte”, e daí “aqueles do Egito” (gypsy, tzigane, tsigane, gitano, cigano). A cultura cigana na realidade é um mosaico de linhagens étnicas, e a linhagem Roma é a maior (da qual saíram os Manuche, como Django). É importante dizer isso porque aqueles que nós chamamos de ciganos fazem parte de uma diversidade fantástica, e a unidade dessa diversidade não está exatamente na língua (o Romani, pois de fato, muitos ciganos não falam Romani, como os Calons aqui do Brasil, por exemplo). Para alguns a unidade dessa cultura está numa espécie de “musicalidade única do espírito” que está presente no “jeito de falar” (o que os ciganos em geral chamam de “romanes” – e o que o antropólogo inglês Micheal Stweart traduziu apropriadamente como “o jeito de ser”). Então se as pessoas prestarem atenção vão perceber que os ciganos (qualquer linhagem) tem uma musicalidade única que é facilmente percebida na “prosódia”. Não, não é sotaque porque é muito mais profundo, é muito mais rico e intenso. Os ciganos, de diferentes linhagens, mesmo não falando sintaticamente o mesmo romani, se reconhecem através dessa musicalidade ímpar que está não apenas na prosódia mas num ethos particular.
Pois é, o Django, que recebeu esse nome quando menino (em romani quer dizer algo como “amanhecer” – que beleza!), aprendeu a tocar violino antes dos 10 anos, mas depois mudou definitivamente para o banjo e violão. Aos 18 anos, já casado, sofreu um acidente que marcou para sempre sua vida. Num incêncio em sua carroça sofreu queimaduras em boa parte do corpo, e os dedos anular e mindinho da mão esquerda ficaram “prensados” e deformados. Queriam amputar o braço de Django que resistiu e resolveu reaprender a tocar com apenas os dedos indicador e médio (com a paralisia dos outros dois dedos colados, ele eventualmente utilizava para fazer acordes em pestana). Em 1934, então com 24 anos Django se juntou a Stephane Grappelli e formou aquele que seria o conjunto de jazz europeu mais famoso. A partir daí Django não parou mais e se tornou referência para guitarristas de todos os matizes e origens – por exemplo, o grande John Williams teve sua vida diretamente ligada a Django, pois seu pai que era músico e violonista se mudou da
Austrália com a família para a Inglaterra exatamente porque era admirador de Django e seu quinteto mágico. John Williams cresceu ouvindo a guitarra de Django Reinhardt.

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